quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Paciência na tribulação
“Dai-nos força para resistir à tentação, paciência na tribulação, e sentimentos de gratidão na prosperidade.” Essa é uma prece da Igreja, na Liturgia das Horas. Desde que tenha atingido a idade do “uso da razão”, independentemente de condição social e cultural, o ser humano precisa ter motivação, convicção e persistência, em tudo que faz. Em todas as situações da vida, essas qualidades são imprescindíveis; são, particularmente, necessárias em situações adversas, em vista de sua superação. Além dessas qualidades humanas, a paciência, quando exercitada como virtude, contribui, de uma forma muito efetiva, para o enfrentamento de tribulações. Todas as pessoas estão sujeitas a essas tribulações e é muito comum que se prostrem, física e psicologicamente, diante dessa experiência porque nem sempre a razão age na linha da confiança e o sentimento contém a linguagem da esperança. Daí a necessidade da virtude da paciência que tem a propriedade de deixar a pessoa no comando da situação, animada pela esperança e sustentada pela confiança.
Na Sagrada Escritura, há exemplos edificantes de pessoas que enfrentaram as tribulações com plena confiança em Deus, a ponto de relativizarem as consequências da perseguição e do martírio. “Judas, cognominado ‘Macabeu’ (martelo) por sua tenacidade na guerra, era o terceiro filho de Matatias. Seu glorioso cognome passou a ser aplicado indistintamente a seus irmãos e a todos que impugnavam o pacto com os pagãos, como os ‘sete irmãos Macabeus’, martirizados diante de sua mãe.” Os irmãos macabeus são um exemplo eloquente de quem enfrenta a tribulação, ativa e pacientemente. (cf 2Mac 7). São Paulo é outro exemplo de determinação e coragem, diante das tribulações: “Estou cheio de consolação e transbordo de alegria, em todas as aflições.” (2Cor 7,4) “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada? (...) Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou.” (Rm 8,35.37)
Santo Agostinho (séc. V), numa de suas homilias a respeito das provações e tribulações, ensina que os seres humanos se comportam de modo diverso. “Há alguns que, ouvindo falar de futuras tribulações, se armam ainda mais e têm sede delas como de bebida. Julgam fraco o remédio dos fiéis e buscam a glória dos mártires.” Na história da Igreja, os mártires, em todos os tempos e lugares, confirmam a palavra do Bispo de Hipona. São Lourenço é um deles. “O ano 257, o imperador Valeriano publicou o decreto de perseguição contra os cristãos e, ao ano seguinte, foi detido e decapitado o Papa São Sixto II, São Lourenço o acompanhou no martírio quatro dias depois. Segundo as tradições quando o Papa São Sixto se dirigia ao local da execução, São Lourenço ia junto a ele e chorava. ‘Aonde vai sem seu diácono, meu pai?’, perguntava-lhe. O Pontífice respondeu: ‘Não pense que te abandono, meu filho, pois dentro de três dias me seguirá’.” Ainda segundo santo Agostinho, “Há outros, porém, que com o anúncio das futuras e necessárias provações, que precisamente devem vir ao cristão e não atingem senão ao que quiser ser sinceramente cristão, na iminência delas, ficam alquebrados e vacilam.” O medo do sofrimento e a falta de firmeza na fé levaram muitos cristãos a fugir das tribulações e do martírio.
Exercitando a paciência diante das tribulações, qualquer pessoa sabe que pode contar com a ação da graça de Deu, para enfrentá-las e superá-las.
Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares - PE
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