Na época de Jesus, presente feito homem em nossa história, a pessoa com a doença da lepra era tida assim porque pecou. Além de sofrer com o mal físico, sofria também por ser tachada como portadora do mal moral. Aliás, hoje também muitos são marcados ou mal vistos porque são excluídos do convívio social mais digno. Desta forma, a pessoa pobre materialmente muitas vezes é discriminada. Diga-se o mesmo de tantas outras discriminações.
Lutar pela justa inclusão humana e social é um trabalho árduo. Não se deve confundir esforço por se superarem injustiças com uso de meios não éticos ou desvalorização de instituições ou até de princípios irrenunciáveis sobre a dignidade da pessoa e de valores inerentes ao seu ser ou à sua vocação. Requer discernimento, formação para o respeito à natureza com seus valores a ela inerentes, bem como o da dignidade da vida e da pessoa humana.
Já desde a época de Moisés, o grande libertador do povo hebreu da escravidão no Egito, a pessoa com lepra devia viver fora do convívio da sociedade. O sacerdote era o encarregado de declarar essa segregação. O mesmo também declarava a oficialização da inclusão quando a pessoa sarava dessa enfermidade. Indicava-se, assim, que este líder religioso assegurava à comunidade a verdade dos fatos.
Jesus veio para curar nossas enfermidades. Não se restringiu às de natureza física ou biológica. Demonstrou sua força taumaturga ou de fazer curas para indicar, de modo sensível e de maior facilidade de credibilidade, o seu poder divino. Daí partiu para provar seu poder total, de curar o pior mal, que é o moral. Não se trata de se ter a lepra como pecado, mas de se enfocar o pecado como a maior “lepra”. Não é o que entra no corpo, como a comida, o que mancha a pessoa e sim o que sai de sua intenção, ou seja, a maldade moral.
O saudoso papa Paulo VI lembrava que o grande mal da sociedade é relativizar o mal, assumindo-o como bem. A “lepra” do mal podemos visualizar em tantos fatos e pessoas: a mentira, a desonestidade, o desrespeito à vocação matrimonial, a infidelidade conjugal, o uso do sexo fora do sentido da casamento, o uso da política com a lesão do bem comum, a falta de compromisso com a promoção dos deixados de lado na ordem social, a falta de assistência adequada aos flagelados, o desrespeito à vida, à natureza, à dignidade humana...
Se não buscarmos a fonte do bem e seu valor inerentes à ordem da natureza e do proposto diretamente pelo Criador, simplesmente assumimos o mal como bem, na busca de nossos apetites instintivos. Canalizar nossos desejos e impulsos para a busca de valores e ideais mais elevados, como os propostos por Deus, fazem-nos pessoas dignas e de grandeza de caráter. Contribuimos, assim, para a convivência e promoção do bem de todos.
Combater a “lepra” do egocentrismo, que nos leva a atitudes puramente animalescas, com a prática da verdadeira cidadania e grandeza de caráter e de alma, felicita-nos e nos faz curar de nossa doença maligna, o mal moral.
Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros (MG)
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